Você já ouviu falar em Parto Domiciliar Planejado?
Na busca por um parto personalizado, que ofereça conforto e segurança não apenas do ponto de vista biológico e fisiológico, mas também psicológico e cultural, o Parto Domiciliar Planejado (PDP) surge como uma opção para romper com as estruturas de poder presentes no ambiente hospitalar. Em muitos casos, o hospital segue um ritmo tecnocrático e mecanizado, com excesso de medicalização e intervenções desnecessárias. O PDP, por sua vez, pode ser visto como um ato de resistência e de defesa dos direitos femininos, uma escolha que coloca a mulher como protagonista do seu processo de parto.
Apesar disso, muitas dúvidas, inseguranças e mitos ainda cercam o tema.
Enquanto o parto hospitalar tradicional é amplamente organizado para atender às necessidades do sistema obstétrico, predominantemente assistido por médicos, o PDP organiza sua assistência para respeitar as necessidades da mulher e do recém-nascido. Ele é majoritariamente acompanhado por enfermeiras obstetras ou obstetrizes, que oferecem um cuidado mais próximo e menos intervencionista.
No Brasil, 98,36% dos nascimentos ocorrem em hospitais. Essa realidade, além de cultural e histórica, é também reforçada pelo discurso de segurança que associa o hospital a um ambiente mais controlado e protegido. Narrativas que promovem o medo, a culpa e a responsabilidade também influenciam as decisões das mulheres, muitas vezes limitando suas opções quanto ao local do parto.
"As pessoas diziam: 'ah, que perigo'. É uma decisão minha, e acho que muita gente desiste por isso. Quando você toma uma decisão dessas com a família contra, é mais um fator para lidar."
"Minha mãe, minha sogra, minha avó, todos tinham muito medo do parto domiciliar. Achavam que eu estava sendo inconsequente. O pediatra da minha filha disse: 'vocês fazem o que quiserem, mas eu não apoio'. Isso mexeu muito comigo."
Depoimentos de mulheres sobre influências que sofreram ao optar por um PDP.
Do ponto de vista científico, diversos estudos sugerem que o PDP, quando realizado com uma equipe qualificada e em gestações de risco habitual, é uma opção segura. Revisões científicas indicam que, para mulheres saudáveis, o parto domiciliar apresenta resultados semelhantes ao parto hospitalar em termos de segurança para mãe e bebê. Entre os benefícios apontados, há uma redução nas intervenções médicas e violências obstétricas, como cesarianas e episiotomias, e uma experiência de parto mais participativa e empoderada para a mulher.
É importante ressaltar, no entanto, que o PDP só é indicado para mulheres com gestações de risco habitual. Isso não significa que mulheres com algumas condições, como hipertensão ou diabetes gestacional, não possam ter partos naturais, apenas que o local mais seguro, nesses casos, seria o hospital.
Apenas cerca de 15% das gestantes desenvolvem alguma patologia que requer maior atenção durante a gestação ou o trabalho de parto, e esses riscos podem ser identificados ao longo de um pré-natal bem conduzido. Caso ocorra qualquer complicação durante o trabalho de parto em casa, a presença de uma equipe qualificada é essencial para agir de forma rápida e eficiente, garantindo a segurança da mãe e do bebê.
Alguns critérios de elegibilidade para o PDP são, entre outros: – Gestações de risco habitual. – Profissionais capacitados, como obstetrizes e enfermeiras obstétricas, com treinamento em urgências obstétricas e neonatais e com material adequado para o atendimento. – Planejamento detalhado, com uma distância segura do hospital para eventuais transferências.
O cuidado que uma mulher recebe durante o trabalho de parto é fundamental para sua experiência. Uma experiência positiva deve atender ou superar as expectativas da mulher, garantindo o nascimento de um bebê saudável, em um ambiente seguro e com apoio técnico e emocional contínuo. O PDP oferece essa possibilidade.
O Hospital e a Humanização do Parto
Muitas mulheres preferem o hospital como local de parto, e é importante lembrar que, para elas, essa escolha pode ser genuinamente baseada na sensação de segurança. O fundamental é que essa sensação seja autêntica, e não imposta por crenças familiares ou pela pressão de profissionais que valorizam apenas o modelo hospitalar tradicional.
Contudo, no hospital também existem desafios. Nem sempre as mulheres são acompanhadas por profissionais que valorizam o parto normal e respeitam suas escolhas e desejos. A falta de uma equipe humanizada pode expor a gestante a intervenções desnecessárias, como cesáreas, que podem complicar uma situação que, inicialmente, seria simples de lidar.
Aqui, entra uma reflexão importante: há muitos hospitais, inclusive no Brasil, que estão adotando práticas humanizadas no atendimento ao parto. Equipes multidisciplinares estão sendo treinadas para oferecer um cuidado que respeite o protagonismo da mulher e minimize intervenções desnecessárias. Essa evolução também precisa ser valorizada, porque o ambiente hospitalar não precisa ser, necessariamente, sinônimo de um parto distante das necessidades emocionais e fisiológicas da mulher.
O direito à escolha do local de parto ainda não é uma realidade para todas no Brasil. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as mulheres tenham acesso a informações de qualidade para escolherem de maneira consciente o local de parto — seja em casa, casa de parto ou hospital — o SUS ainda não oferece o PDP como opção. Isso restringe a escolha às mulheres que têm condições financeiras de pagar por essa assistência particular.
Devemos entender que o parto vai além do aspecto fisiológico, possuindo uma dimensão emocional, cultural e social que precisa ser respeitada. As mulheres devem ter o direito de conhecer suas opções e de fazer escolhas informadas e conscientes, seja em casa, em casas de parto ou em hospitais.
Respeito e Escolha
O Parto Domiciliar Planejado é uma escolha que traz à tona a humanização do nascimento e a importância de respeitar o desejo da mulher e sua família. Com uma equipe qualificada e um planejamento rigoroso, ele pode ser seguro e gratificante. No entanto, é essencial que a escolha do local de parto seja baseada no conforto e segurança genuínos da mulher.
Em última análise, o melhor lugar para o nascimento é onde a mãe se sente segura, seja no aconchego do lar ou na segurança do hospital. O protagonismo, a informação e o respeito às suas decisões devem sempre estar no centro desse processo.
O parto domiciliar planejado é uma escolha cada vez mais discutida e respeitada no cenário da humanização do nascimento. Para muitas famílias, ele representa uma oportunidade de trazer o bebê ao mundo em um ambiente familiar e acolhedor, longe do ambiente hospitalar tradicional. Como fotógrafo de nascimentos, eu tive a chance de estar presente em diferentes tipos de partos, e vejo que a escolha do local impacta diretamente na experiência emocional da mãe e da família.
No entanto, é crucial que o parto domiciliar seja sempre bem planejado e acompanhado por uma equipe de profissionais qualificados.
Cada parto é único, assim como as escolhas que as famílias fazem ao longo do caminho. A humanização está justamente em respeitar essas escolhas, com segurança e carinho. Eu acredito que, seja no hospital ou em casa, o mais importante é que a mãe se sinta segura e apoiada, e que o ambiente permita o protagonismo do seu momento de parir.
Se você está considerando um parto domiciliar ou tem dúvidas, eu recomendo que converse com profissionais especializados e que sejam alinhados com essa prática, para que todas as suas questões sejam esclarecidas de forma cuidadosa e baseada em evidências.