A fotografia é o reconhecimento simultâneo, em uma fração de segundo, do significado de um evento."
- Henri Cartier-Bresson
Fotografar o nascimento de um bebê não é como fotografar qualquer outro tipo de evento. É documentar o primeiro instante de uma vida, o encontro mais esperado, a emoção mais genuína; por isso é DOCUMENTAL. O fotografo de nascimentos, tem a missão de transformar momentos que muitas vezes passam despercebidos pelo turbilhão de emoções vividas pelos pais, em memórias sólidas e compartilháveis. Esse trabalho exige, além, da técnica fotográfica; responsabilidade que demanda sensibilidade, preparo e uma conexão verdadeira com as famílias.
Existem desafios únicos enfrentados pelo fotógrafo de nascimentos. O primeiro, e que salta aos olhos, é a imprevisibilidade. Um nascimento não tem hora marcada para acontecer – podendo acontecer pela madrugada, feriado ou final de semana – e isso exige disponibilidade total. Ainda que a família tenha planejado uma cirurgia cesariana com data marcada, o fotografo precisa estar atento e de prontidão para o caso de qualquer mudança de planos inesperada. Estar sempre de prontidão, estar sempre carregando o equipamento para qualquer eventualidade, torna o ritmo de vida desafiador, mas também emocionante.
A imprevisibilidade de datas e horários afeta diretamente a vida pessoal desse profissional. Momentos com a própria família costumam ser reduzidos, já que é comum receber chamadas para fotografar um parto em horários inesperados, o que torna difícil programar férias ou até pequenos momentos de lazer com amigos e familiares. A agenda flexível pode ser uma vantagem para alguns, mas para quem precisa estar sempre disponível, o sono interrompido, as refeições corridas e a constante sensação de estar "em alerta" se tornam parte da rotina. Essa falta de previsibilidade também pode gerar dificuldades na hora de conciliar compromissos pessoais e profissionais, exigindo um grande equilíbrio para manter a vida pessoal saudável e plena.
Mas cada chamado atendido é um momento único, uma história a ser contada, e a espera faz parte desse processo.
O tipo de ambiente pode ser outro desafio para esse profissional. Se o nascimento acontece em ambiente hospitalar, o espaço pode ser limitado, as condições de iluminação nem sempre ideais e o fluxo de pessoas constante, as rotinas e protocolos de segurança inerentes a esse ambiente, tudo isso são pontos que só um profissional qualificado saberá lidar com ele sem causar nenhum transtorno ou interferência. A presença de profissionais de saúde, máquinas e protocolos de segurança pode criar um ambiente que, à primeira vista, parece pouco propício para a fotografia, exigindo técnicas e habilidades para capturar as emoções sem interferir nos processos de assistência clínica. Já em um parto domiciliar planejado, o ambiente é mais acolhedor, mas igualmente repleto de momentos imprevisíveis; e o fotógrafo lida aqui com um cenário mais familiar, mas ainda assim, a intimidade e a proximidade emocional dos envolvidos requerem um cuidado especial para manter o respeito e a discrição. Em ambos os casos, é fundamental respeitar a dinâmica do momento, os sentimentos da família e os limites impostos pela situação.
Mas, quando ele chega ao ambiente onde um nascimento está acontecendo, o fotógrafo sente uma felicidade indescritível. Todo o cansaço, as noites em claro e as renúncias são esquecidas no instante em que ele vê a vida surgindo, sente a emoção no ar, é tomado por adrenalina e é como se a ocitocina também agisse sobre ele; e ali ele testemunha o encontro das famílias com seus recém-nascidos. É uma realização que é muito maior que qualquer dificuldade; estar presente nesse momento faz com que ele se sinta completo e totalmente conectado com a sua missão. Cada fotografia é feita com paixão e compromisso, e saber que esses registros irão contar a história do nascimento de alguém é a verdadeira recompensa.
A emoção de capturar o instante exato do primeiro encontro entre pais e filho, o toque da pele, o primeiro choro, os sorrisos – tudo isso compensa qualquer noite em claro ou correria. Saber que essas imagens serão guardadas com carinho, revisitadas ao longo da vida e transmitidas de geração em geração é a maior satisfação que a profissão pode trazer.
Sendo assim é possível dizer que, ser fotógrafo de nascimentos é, em essência, ser um contador de histórias de vida real. É estar presente em um dos momentos mais marcantes da existência de alguém, documentando para sempre esse capítulo da sua história para as futuras gerações. A cada nascimento, o fotógrafo experimenta uma mistura de emoções: a expectativa de registrar o nascimento, a alegria de testemunhar a chegada de uma nova vida e a gratidão por poder contribuir com memórias que serão revisitadas ao longo dos anos. O fotógrafo de nascimentos não apenas gera imagens de momentos captados pelo sensor da sua câmera, mas participa de histórias de amor, coragem e transformação, contribuindo para que essas narrativas sejam preservadas por toda a vida.
Fotografar um nascimento é documentar a vida em essência acontecendo, é documentar a coragem, o amor e a força que permeiam esse momento. Cada clique eterniza uma lembrança de um encontro que nos transforma para sempre.
André Pontes